Uma noite num PA
O mal estar não cedia e eu não conseguia entender e nem descrever o que eu sentia. Só sei que era muito ruim e eu estava com medo.
Pedi que alguém me levasse ao PA do Biocor.
Tenho verdadeiro trauma de PA, mas o que eu sentia não me deixava tranquila.
Levei comigo o meu cobertor peludo de casal para enfrentar a noite que certamente iria passar lá.
Depois de falar sobre meus problemas cardíacos,de mencionar o nome de meu cardiologista, o médico que se dizia ser também cardiologista, mas que não me disse seu nome, examinou-me rapidamente e solicitou um exame de sangue.
Eletrocardiograma ele não fez e muito menos aferiu minha pressão. Depois disto sumiu.
Fiquei deitada em uma cama sem travesseiro e lençol, coberta com meu cobertor.
Tive pena de quem me acompanhava, pois, passaria a noite assentado em uma cadeira reclinável, coberto com um cobertor que eu indiquei onde poderia encontrar - um armário no final da fileira de cabines.
Três horas e meia se passaram quando , finalmente, reapareceu o médico que me atendera.
- A senhora está com o Dímero D muito aumentado, o que indica ter algo que precisa ser esclarecido, provavelmente ligado a seu problema cardíaco. Vou pedir um ultrassom e em breve virão buscá-la.
Dito isto deu meia volta e novamente sumiu.
A noite gelada foi longa, nem eu nem meu acompanhante, que acredito ter sido minha filha Marisa, dormimos. O mal estar continuava, embora estivesse mais definido - uma baita taquicardia.
Às sete horas da manhã Renato apareceu para render Marisa, ela deveria estar exausta.
Contei a Renato o que se passara desde minha chegada ao PA e frisei que havia um pedido de ultrassom. Ele foi até o posto de enfermagem para saber o por que deste exame não ter sido feito.
- Não há pedido algum aqui para essa paciente.
Assim que ouvi o relato de Renato sugeri que fossemos embora, já que nada estava fazendo ali. Já estávamos saindo quando uma cadeira de rodas chegou empurrada por um enfermeiro que me informou estar me buscando para fazer um ultrassom.
Fiz o exame, fui trazida de volta e colocada na cama. Ninguém mais apareceu.
Perguntei a uma das enfermeiras onde estava o médico que me atendera e fui informada de que seu plantão tinha vencido à meia noite e que ele já não se encontrava no hospital.
Voltei ao Renato e resolvemos ir embora.
Neste exato momento aparece um rapaz novo, provavelmente estagiário ou recém formado.
Sem se apresentar e nem dar bom dia ele foi falando:
- A senhora está de alta. Não teve e não tem nada.
Nesta hora me irritei e falando bem brava disse a ele:
- Realmente, vou dizer ao senhor o que eu tive. Estava em casa, os programas de televisão estavam péssimos, a noite gelada e eu sem o que fazer. Resolvi pegar meu cobertor e vir passar a noite aqui no hospital. Fazer um programa diferente.
E, se o senhor pensa que vou sair daqui sem levar uma "alta por escrito", assinada pelo senhor, o resultado de meus exames de sangue e do ultrassom, está muito enganado. Faço um escarcéu mas só saio levando tudo.
Ele olhou para mim assutado e rubro.
Renato insistiu para que eu não criasse caso e fossemos embora.
Pouco tempo depois o rapaz voltou com o resultado dos exames de sangue, um papel para que eu pegasse, dois dias depois, o ultrassom e um sumário de alta preenchido e assinado.
Para minha maior surpresa ele era filho do cirurgião que trocaria, um mês depois, o meu marca passo.